Tuesday, July 5, 2011

Uma coisa inventada

já nem lembrava mais que coisa era aquela de ser feliz...
As horas eram passadas de olho no outro que insistia em não viver mais
e por isso, ela também, já não vivia mais - só se deixava passar:
pelas portas, vitrinas, janelas, salas, igrejas, cinemas, escolas... mas não estava em nenhum desses lugares. Estava ausente de si e presa num botão de alguma flor que esqueceu de abrir...



Por isso, às vezes era invisível - era um dom raro e, de certa forma, alienante. Não escolheu o dom, não treinou para ele - apenas recebeu-o numa dessas tardes do nada em que os passantes vão apressados nos seus pensamentos de encerrar o dia - e ela viu que no seu esquecimento de ser, no seu passo de valsa triste, as pessoas quase que a atravessavam, sem olhar, sem ver, sem escutar - era fluida e inexistente!

Utilizava a invisibilidade quase todos os dias - assim não era importunada com perguntas inconvenientes em momentos sociais (que, de certo, não escolhia, mas ia). Realizou num desses momentos de invisibilidade que continuava sendo incomodada - por seus olhos que continuavam vendo. Via demais, sempre viu! Via tudo que era para se ver e não se ver. Via o pensamento de todo mundo - não era leitura, era mais um cineminha ora muito tedioso, ora muito intenso... acho que vinha com o dom da invisibilidade. O fato é que ver era muitas vezes um aborrecimento dos olhos! Então começou a fechá-los, para sentir a invisibilidade em tudo.





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