Friday, December 9, 2011

Monstro Babão



O monstro que mora em mim
Dorme calmo e indiferente
Baba frouxo nos lençóis
Sem saber ser cutucado

Tem olhos avessos aos sonhos
Mas também teme a realidade
Acho que é por isso que dorme
Com garras recolhidas
Os caninos já gastos
Nem sabe se é noite ou dia…
Apenas dorme
Nem tranquilo, nem agitado

E eu não acordo o monstro
No lumiar da aposentadoria
Dos anos de terrores
E batalhas
Deixo o monstro dormir
As poucas horas de paz

Monday, October 24, 2011




Chamo o Anjo da Sede,
Para que segure meus cabelos
Quando eu me debruçar para beber a água da vida.

Chamo os Anjos da Alegria,
Para brincarem de roda
Na calçada do mundo
Deixando tudo muito mais leve
Mais interessante
Nesse rodopio que me eleva

Chamo os Anjos da Noite
Para que me vigiem o sono
E me dêem boas idéias
Clareando meu pensamento
Com sonhos absurdos

Chamos os Anjos do Mistério
Para que me aticem a curiosidade
E me apontem o caminho
Que ainda não aventurei

Invoco o Anjo que me guia
Para que me faça cócegas,
E me sussurre segredos no ouvido,
Na hora da dor e do desconforto
Para que eu lembre de rir
E olhar tudo com os olhos de criança
Que Deus emprestou para mim!

Monday, October 10, 2011

Canção aos Anjos



Chamo o Anjo da Sede,
Para que segure meus cabelos
Quando eu me debruçar para beber a água da vida.

Chamo os Anjos da Alegria,
Para brincarem de roda
Na calçada do mundo
Deixando tudo muito mais leve
Mais interessante
Nesse rodopio que me eleva

Chamo os Anjos da Noite
Para que me vigiem o sono
E me dêem boas idéias
Clareando meu pensamento
Com sonhos absurdos

Chamos os Anjos do Mistério
Para que me aticem a curiosidade
E me apontem o caminho
Que ainda não aventurei

Invoco o Anjo que me guia
Para que me faça cócegas,
E me sussurre segredos no ouvido,
Na hora da dor e do desconforto
Para que eu lembre de rir
E olhar tudo com os olhos de criança
Que Deus emprestou para mim!

Tuesday, October 4, 2011

Os Medos







Quem foi que deixou a luz acesa lá fora?
Deixando que meus medos
Achassem que já era a hora
De me acordar e me lembrar
Que a noite é tempo de sentimentos
Que falam sozinhos
Rondando os quartos,
A cozinha,
A sala…
Trancando vozes
Nos corredores sem fim 
Das insônias?
Meu sono anda covarde
Escondido em algum buraco
Onde esqueci de procurar
Por isso os medos avançam
Quem disse que medo não tem força?
Os meus são fortes e persistentes
E ficam acesos - como  a luz lá fora
Depositados nos meus olhos...

Friday, September 23, 2011

A Guerra da Cama





Eu brigo com a minha cama todas as noites
Ora com frio, ora com calor
Eu chuto as cobertas
Ou me enrolo nelas
Noite sem descanso
Mal dormida
Os sonhos esbarram em mim - de leve
Para me avisar que eu estou cansada
Então a minha bexiga me avisa
Que eu estou envelhecendo
E eu danço valsas
Levantando e voltando para a cama
A noite toda…

As pernas exigem que eu me mova
O corpo busca espaços mais frios nos lençóis
Frescos e ainda inéditos
Barulhos repentinos me acordam
Mas eu já nem sei mais dizer se eram uma idéia de sono
E pertenciam a um projeto de sonho fora de lugar
Ou um ruído que insiste em me acordar

Eu sobrevivo essa batalha todas as noites
E sigo inconstante
O resto do dia

Thursday, September 15, 2011

A Árvore




Observo a árvore:
tronco grosso - robustez
folhas verdes na copa
um punhado de parasitas
que lhe roubam o verdadeiro verde.
Ninhos? Poucos...
Sulcos no tronco desenham um mapa -
mapa  da terra de um povo.
Uma resina vermelha escorre -
não é sangue
Embora sangue soasse mais heróico.
… seiva - escapando - fora de controle
Desperdício...
E dentro da árvore,
um abominável cupim.

Saturday, September 10, 2011




Nessa sombra de casa
Os vultos percorrem os cantos
Cada qual com seu manto
Pra escurecer o dia.

Espiam pelas frestas
das janelas entreabertas.
Encarapuçados - carrascos de almas
De prontidão para nos levar

Desfazem fechaduras
Infiltram-se no piso
Empesteando cada vão
entre os tacos levantados

Umedecem as paredes
Exalando um hålito frio

Por fim, acomodam-se em nossas camas
e dormem um sono
sem hora de ir embora.

Friday, September 2, 2011




A torneira se abriu
Numa enxurrada de palavras e idéias
Inundou a alma
Que rangia enferrujada num vazio de inspiração.
Difícil controlar o fluxo
A corrente tem vontade própria
Vai solta, sem precaução – 
É melhor seguir o natural.
Os respingos refrescam
Mas o arranhar das pedras 
Ferem meu chão
A queda é conseqüência – 
O clímax da minha navegação
Sem controle – sem bússola ou leme
Sigo à deriva dessa torrente
Hei de alcançar o vale
Que expande-se em minha mente.

Tuesday, August 30, 2011

duna




Construí um mundo
fundado em areia
Pilares frágeis
que as ondas abalam
e o vento esfarela
não dá apoio ao passo
e sigo tombando - meio fraca, meio zonza
chão do desequilíbrio
martírio da caminhada
Mas é um mundo em constante transformação
reinterpretado pelos humores da natureza
o vento dá dunas - modifica o terreno
geografia da inconstância
O dorso da duna - um fio
cadência no passo
como no trote da mula
rítmo e desaconchego.
Nesse mundo movediço me instalei
Faço do atrito minha morada

Saturday, August 27, 2011

A Ponte





A ponte que a menina atravessa
É cheia de armadilhas
Promete um mundo do lado de lá -
Um mundo além da margem da vida.
É uma arapuca
Uma ilusão
A ponte não leva 
Nem traz
Melhor seria seguir o rio
Esse rio que sempre tem
um curso que se renova
O rio lava e leva
pra longe
os dejetos
Traz a nova possibilidade
um trajeto caudaloso 
sem monotonia
Na carona das chuvas
No descanso das secas
Deixando as pontes pra trás
Fazendo da menina
o leito onde descansa
as águas novas.

Tuesday, August 23, 2011

the shrinking journey: Rendas

the shrinking journey: Rendas: Sou mulher rendeira

Não a das canções populares

Nem a que senta com bilros nas calçadas quentes do nor...

Monday, August 22, 2011

Rendas





Sou mulher rendeira
Não a das canções populares
Nem a que senta com bilros nas calçadas quentes do nordeste
Meu artefato é delicado
E mutante
Sem sossego
São palavras
Que rendo
E me rendo a elas
Me enrosco
Nas suas milhares de possibilidades e combinações
Desenhos intricados - como filigramas
Com ares antigos e rebuscados
Mosaicos que formo
A renda do meu esforço
Delicada - mas por vezes brusca e tosca
Querendo ser colcha para acomodar os sonhos
Num balaio de rendas
Onde dormem gatos

Thursday, August 18, 2011

Muro Velho





No muro, o musgo cresce.
E por mais que se limpe,
E por mais que se pinte,
Na ilusão de se recuperar o branco,
Pensando estar renovando o muro,
O musgo cresce.
E deixa a superfície tão lisa
tornando impossível a escalada.
E o muro envelhece.
Como deve envelhecer o musgo
Indo embora com a primeira enxurrada.

Monday, August 15, 2011

Caranguejo




Os caranguejos vivem apressados
Andando de lado e desconfiados
Os olhos fora de orbita 
Para observarem o além da própria conta
Catam suas tralhas como quem tem desdém por elas
A boca espumando
Raivosos
Implicantes
Já reparou como não se dão com os vizinhos?
Como vivem medrosos de si?
Da sombra?
Da areia?
E vão se enlameando sempre que podem
Garras prá cima
Ameaçando
… mas são tão frágeis, os pobrezinhos…
Eu tenho a alma carangueja!

Friday, August 12, 2011

Revisão



Às vezes eu quero ser portuguesa
Estar num mundo cheio de azulejos azuis ornados
Elegantes - jardins internos de conventos
Reclusa nos meus pensamentos
Andar de tamancos arrastados
Olhar o mar com desejo de ir ou vontade de voltar
Lavar roupas batendo em pedra
Pensar no rio que corta a minha cidade
E escrever com segurança de Camões, Fernando, Saramago
Dominar minha língua em sua origem
E amá-la de tal forma que ela descance em mim
Seus verbos agitados

Quero brincos de ouro em orelhas cansadas
Os bigodes dos anos nas mulheres doceiras
Lenços longos e enfeitados
Substituindo cabelos

Às vezes quero ser portuguesa
Para seguir pelo mar - 
Para poder descobrir o Brasil...

Wednesday, August 10, 2011

Ver




Esses olhos...
Os olhos me assustam.
Não te afligem os olhos?
Eles enxergam o que não há.
Trespassam a zona de fronteira,
O tênue véu da alma,
onde deveriam ficar para perscrutar o ser.
E ali entendê-lo - e possivelmente admirá-lo.
Mas querem espionar a carne.
Querem descobrir riquezas.
E estabelecem um código de estética e de ética.
Vêem um ser que tem e faz 
Deixando de lado, rapidamente, como num piscar de olhos,
toda a possibilidade do ser além dos olhos.
Os olhos secam com o vento dos tempos.
E se fecham - extinguem o ser que existe antes da cortina
do ser edênico.
E não tendo mais a lanterna que são seus olhos para iluminar-lhes
o caminho,
Deixam de descobrir o paraíso que há
Quando mergulhamos 
Para além-dos-olhos
sem enxergar.

Sunday, August 7, 2011

Rosas




Eu não sei escrever sobre coisas suaves.

Não sei falar da cor da rosa,
nem da brisa,
nem da delicadeza -
o que quer que seja -
de um pássaro.

Na rosa eu vejo o contraste do verde com a cor da flor.
O cetim da pétala com a justeza do espinho.
E não consigo sentir perfume.

Mas sei contemplar!

Sei contemplar a flor,
o vento na flor,
o pássaro no vento.

E vejo o mundo em movimento.
Vejo o dia desabrochar num botão.

Friday, August 5, 2011

Poema sem encomenda

Ela me pediu um poema
Como se um poema fosse algo assim
Que se pede.
Um poema se dá
E se esconde
Nas entrelinhas que oferece.
Dá-se um poema
Como uma ninhada de cães ou de gatos
Que se abandona
Sem criar laços.

Doa a quem doer.

Thursday, July 21, 2011

Mentira




Minha história é de poesias.
Não sei contar um causo com coerência
E consistência…
Meus causos são todos enfeitados -
Que nem asa de borboleta.
Mas assim como as borboletas,
Teimam em fugir de mim
E seguir com as flores e outras lorotas.
Sim, porque as flores andam meio mentirosas nesses dias quentes e secos.
Esqueceram de brotar e colorir os jardins -
Foram embora e levaram as borboletas e os meus causos enfeitados
Fiquei sem papo
Sem as palavras ornamentadas que me enchem essa tarde de preguiça
Melhor ver se acho sapos

Saturday, July 16, 2011

De agullhas e nós


Uma agulha na trama do pano
No pano caminhos atando
Arrematando os anos
Dos anos tecidos fio a fio
Nos fios que delimitam o pano
O pano de fino tecido
Tecido ano a ano
No zig-zag da agulha
Da agulha que comete enganos
Nos enganos desse pano
Tramando nós
Nos nós que desatamos.

Friday, July 15, 2011

when I decide to write in English

I have this desire to translate all my writing from Portuguese into English, but every time I try it, the process leads to another story and it doesn't look like translation -  it is a completely new story! And then I feel I have to translate this new created story into Portuguese and the loop will have no end... so I don't translate!

I've been in America for almost 15 years now and I still write most of my poems and stories in Portuguese - why? I don't know! I guess my set of inspiring gods or muses are still linked to my "account" in Brazil. I wonder how I can have them migrate here with me... or should I? I really don't know, but I have better chances, or a bit of a chance to get published here than in Brazil!

I guess I'll have to attempt not translating, but starting from scratch - new stories, new poems, new songwriting - new me in this good ole soul - my American Self as a story teller!


Friday, July 8, 2011

Uma Coisa Inventada - II

Os olhos ficaram fechados, apertados para não deixar entrar nenhuma luz, nenhuma imagem e ela se deixou mergulhar naquele mundo do invisível... era surpreendentemente calmo e silencioso - tudo parecia ser sussurrado. E havia uma certa melodia sendo murmurada e repetida - como um credo, um mantra! Resolveu abrir os olhos devagar, para que a luz não lhe invadisse os olhos violentamente - e, para sua surpresa, a luz era suave, uma penumbra de sono da tarde - janelas fechadas peneirando o dia. Quando os olhos se ajustaram àquela nova luminosidade, percebeu que não estava mais no mundo visível. Estava num mundo novo, que lhe permitia olhar sem ser interrogada, que lhe permitia ser para dentro. Ficou alguns minutos contemplando aquele mundo e não reconheceu ninguém, nem nada - um daqueles momentos do novo em que a gente tem que dar uma pausa para tanta informação que vem chegando. Ficou um pouco atordoada. Fechou os olhos novamente e apertou-os com força - e voltou.

O quarto do hospital era o mesmo, os sons do monitores continuavam apitando e a enfermeira de plantão acabara de sair. Para onde tinha ido? Que lugar era aquele que ela podia visitar?
Era já quase hora do jantar - tinha que ir até a cantina comer aquela comida pálida, mas que para ela não fazia diferença ser pálida ou ser rica em cores e vitaminas - tudo tinha o mesmo gosto de metal, de dor... pela primeira vez não queria ir jantar sozinha. Sentia uma necessidade de companhia - a experiência do mundo desconhecido, sem nome, sem referência, talvez fosse a causa dessa sentimentalidade social.



Tuesday, July 5, 2011

Uma coisa inventada

já nem lembrava mais que coisa era aquela de ser feliz...
As horas eram passadas de olho no outro que insistia em não viver mais
e por isso, ela também, já não vivia mais - só se deixava passar:
pelas portas, vitrinas, janelas, salas, igrejas, cinemas, escolas... mas não estava em nenhum desses lugares. Estava ausente de si e presa num botão de alguma flor que esqueceu de abrir...



Por isso, às vezes era invisível - era um dom raro e, de certa forma, alienante. Não escolheu o dom, não treinou para ele - apenas recebeu-o numa dessas tardes do nada em que os passantes vão apressados nos seus pensamentos de encerrar o dia - e ela viu que no seu esquecimento de ser, no seu passo de valsa triste, as pessoas quase que a atravessavam, sem olhar, sem ver, sem escutar - era fluida e inexistente!

Utilizava a invisibilidade quase todos os dias - assim não era importunada com perguntas inconvenientes em momentos sociais (que, de certo, não escolhia, mas ia). Realizou num desses momentos de invisibilidade que continuava sendo incomodada - por seus olhos que continuavam vendo. Via demais, sempre viu! Via tudo que era para se ver e não se ver. Via o pensamento de todo mundo - não era leitura, era mais um cineminha ora muito tedioso, ora muito intenso... acho que vinha com o dom da invisibilidade. O fato é que ver era muitas vezes um aborrecimento dos olhos! Então começou a fechá-los, para sentir a invisibilidade em tudo.





Saturday, July 2, 2011

Poeminha de Hoje

O poema moderno
Não é mais poema
É mais uma crônica
Uma breve história de um momento
Flagrado por alguém que teve tempo
De observar
No meio da correria
Que a vida impõe ao tempo (que a tecnologia veio roubar)
O poeta observa
E anota
Registra e embeleza o corriqueiro
Sentado no trem
Vê o homem desdentado
Consumido pelo espaço em sua boca
O esforço de um sorriso escuro
A boca em arco convexo
E o poeta olha
Registra o acontecimento
Num lapso do tempo
Que, suspenso, ainda segue no trem

Thursday, June 16, 2011

Ciranda Moderna






Roda, roda, roda
Até ficar tonta
Até ver o mundo girar
Até o chão ficar confuso
até os olhos não poderem mais olhar

Roda, roda, roda
Até o céu mudar de lugar
e o mundo ficar de cabeça prá baixo
e eu não poder mais caminhar

Roda, roda, roda
até a terra parar
e as nuvens passarem apressadas
e tudo ao redor se espalhar
até o mundo ficar tão grande
pra tudo caber
sem diferenças
de credo,
de raça
de gênero
de escolha
pois tudo vai rodando
na roda que a gente canta
no enrêdo que a gente inventa
na saia da nossa vida
No balaio do nosso sonhar

Roda, roda, roda
até a gente se reencontrar
e rir meio gago
e tonto
e sonso
e a nossa amizade
reinventar

Roda,
Roda
Roda

Thursday, April 28, 2011

Jazigo Nupcial

A viúva é o revez da noiva
Veste-se de negro ao invés de branco
Carrega a dor, não lhe sobra graça
No lugar do sorriso, o pranto.

Entra sem dignidade - cabeça baixa
Já cheia de filhos -
beija o corpo inerte do marido ausente
Um momento gélido
As flores já vão doentes...
E os presentes lhe abraçam tristes
tentando oferecer consolo
Todos a querem bem,
mas não sabem a dor do abandono
e temem o constrangimento do encontro.

A viúva é o reverso da noiva
Não há buquê, não há valsa
O cortejo segue solene
A viúva retrata a desgraça...

Aquele que um dia foi seu noivo
jaz calado, num leito onde não cabem abraços -
os olhos fechados
para a viúva que veste o pálido.

Sunday, April 24, 2011

Anedota de Pássaro


Os pássaros vivem na teimosia
de animar os quintais
atiçam gatos e põem loucos os animais
vão colorindo jardins
em vôos coreografados de ar
são furtivos - às vezes mal humorados
quando cismam em atacar
as minhocas, besouros, larvas
que só seus olhos vêem
nos aconchegos das sombras e das plantas 
no escondido da terra
do alto do galho eles espreitam e esperam
corações palpitando de vontade
e já satisfeitos de lautos banquetes -
vão pousar no fio do poste - esperando a digestão
e assim, nos carros defecar!

Cal-Earth - Studio 360

Cal-Earth - Studio 360

Friday, March 25, 2011

os deuses das grutas - ou um deus escondido


                                                                                                              A experiência na caverna é espiritual, mísitca – testemunho de uma graça da natureza, ou talvez um conto de mistérios…
É como caminhar pelas entranhas de um Deus – a garganta petrificada, os intestinos retorcendo em estalagtites e estalagmites querendo se encontrar – Romeus e Julietas subterrâneos!
Os ácidos do êstomago vertendo em cálculos milenares – o cérebro brilhante – de belo!
E dentes, muitos dentes ferozes – o avesso do Deus que mostra o gêmeo monstro que, na verdade, está ali para proteger a reentrância.
A escuridão domina os olhos – os sons são guturais. E há santos, muitos santos empilhados por todas as partes – ou monges, gurus, sábios, mestres, profetas, anjos… todos estagnados para o dia – mas ativos à noite (pois sempre é noite nesse reino mineral), quando crescem e se movem invisíveis por muitos anos.
A caverna convida para essa aventura do escuro, do petrificado, do sagrado que a gente nem conhece. Suas riquezas são pintadas de tempo e ausência de luz – é a cor do que há de ser quando  alguém escorregar por sua longa garganta e mergulhar no que a caverna conduz…

Thursday, March 10, 2011

varal

A roupa esticada no varal
Escorre o encardido da semana
Tudo pendurado: a meia, a calcinha, o soutien, o vestido
O vestido carmim - desmilinguido
Eu, nua, pendurada
Me secando
E quanto mais me seco,
Mais escorro
Mais me escorrem - pelas pernas, pelos braços, pelo rosto -
Os anos
E fico reluzente
Brilhante
De cândida
Com a poça das épocas sob os meus pés