Friday, August 12, 2011

Revisão



Às vezes eu quero ser portuguesa
Estar num mundo cheio de azulejos azuis ornados
Elegantes - jardins internos de conventos
Reclusa nos meus pensamentos
Andar de tamancos arrastados
Olhar o mar com desejo de ir ou vontade de voltar
Lavar roupas batendo em pedra
Pensar no rio que corta a minha cidade
E escrever com segurança de Camões, Fernando, Saramago
Dominar minha língua em sua origem
E amá-la de tal forma que ela descance em mim
Seus verbos agitados

Quero brincos de ouro em orelhas cansadas
Os bigodes dos anos nas mulheres doceiras
Lenços longos e enfeitados
Substituindo cabelos

Às vezes quero ser portuguesa
Para seguir pelo mar - 
Para poder descobrir o Brasil...

Wednesday, August 10, 2011

Ver




Esses olhos...
Os olhos me assustam.
Não te afligem os olhos?
Eles enxergam o que não há.
Trespassam a zona de fronteira,
O tênue véu da alma,
onde deveriam ficar para perscrutar o ser.
E ali entendê-lo - e possivelmente admirá-lo.
Mas querem espionar a carne.
Querem descobrir riquezas.
E estabelecem um código de estética e de ética.
Vêem um ser que tem e faz 
Deixando de lado, rapidamente, como num piscar de olhos,
toda a possibilidade do ser além dos olhos.
Os olhos secam com o vento dos tempos.
E se fecham - extinguem o ser que existe antes da cortina
do ser edênico.
E não tendo mais a lanterna que são seus olhos para iluminar-lhes
o caminho,
Deixam de descobrir o paraíso que há
Quando mergulhamos 
Para além-dos-olhos
sem enxergar.

Sunday, August 7, 2011

Rosas




Eu não sei escrever sobre coisas suaves.

Não sei falar da cor da rosa,
nem da brisa,
nem da delicadeza -
o que quer que seja -
de um pássaro.

Na rosa eu vejo o contraste do verde com a cor da flor.
O cetim da pétala com a justeza do espinho.
E não consigo sentir perfume.

Mas sei contemplar!

Sei contemplar a flor,
o vento na flor,
o pássaro no vento.

E vejo o mundo em movimento.
Vejo o dia desabrochar num botão.