já nem lembrava mais que coisa era aquela de ser feliz...
As horas eram passadas de olho no outro que insistia em não viver mais
e por isso, ela também, já não vivia mais - só se deixava passar:
pelas portas, vitrinas, janelas, salas, igrejas, cinemas, escolas... mas não estava em nenhum desses lugares. Estava ausente de si e presa num botão de alguma flor que esqueceu de abrir...
Por isso, às vezes era invisível - era um dom raro e, de certa forma, alienante. Não escolheu o dom, não treinou para ele - apenas recebeu-o numa dessas tardes do nada em que os passantes vão apressados nos seus pensamentos de encerrar o dia - e ela viu que no seu esquecimento de ser, no seu passo de valsa triste, as pessoas quase que a atravessavam, sem olhar, sem ver, sem escutar - era fluida e inexistente!
Utilizava a invisibilidade quase todos os dias - assim não era importunada com perguntas inconvenientes em momentos sociais (que, de certo, não escolhia, mas ia). Realizou num desses momentos de invisibilidade que continuava sendo incomodada - por seus olhos que continuavam vendo. Via demais, sempre viu! Via tudo que era para se ver e não se ver. Via o pensamento de todo mundo - não era leitura, era mais um cineminha ora muito tedioso, ora muito intenso... acho que vinha com o dom da invisibilidade. O fato é que ver era muitas vezes um aborrecimento dos olhos! Então começou a fechá-los, para sentir a invisibilidade em tudo.
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